segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sem mandato judicial, Polícia Militar de MG e guarda municipal da Prefeitura de Belo Horizonte despejam 150 famílias de ocupação em Belo Horizonte, MG. 28/10/2013.

Sem mandato judicial, Polícia Militar de MG e guarda municipal da Prefeitura de Belo Horizonte despejam 150 famílias de ocupação em Belo Horizonte, MG.

Nota de repúdio à violência perpetrada pela PM de MG e pela GM/PBH a 150 famílias pobres de MG.

REPRESENTAÇÃO AO MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS, áreas de Direitos Humanos e de Assuntos Comunitários.

Dia 25/10/2013, a Polícia militar de Minas Gerais e a Guarda Municipal de Belo Horizonte, semelhante ao que fizeram na Ocupação Zilah Spósito/Helena Greco há 3 anos atrás, foi arbitrária, agiu de forma ilegal, truculenta e se comportando como jagunços disfarçados de policiais e funcionários públicos. Entre a Vila Corumbiara e Vila Pinho, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, MG, cerca de 150 famílias ocuparam há dez dias um grande terreno abandonado. Tentavam sair da cruz do aluguel, veneno que come no prato dos pobres, e da cruz que é sobreviver de favor, uma humilhação. Mas na manhã do dia 25/10/2013, dezenas de policiais militares de MG chegaram à Ocupação e sem mandato judicial, de forma truculenta, ilegal e imoral, expulsaram as famílias sem-casa e sem-terra que estavam no local. O povo foi enxotado sob a mira de fuzis e armas de grosso calibre, com bombas, spray de pimenta e gás lacrimogêneo. Quatro pessoas foram presas: uma vovó, a senhora Meire; um adolescente, um policial do exército e um jovem que voltava do trabalho.
Sem nenhum critério objetivo ou mandato judicial que justificasse esta ação violenta da PM/MG e GM/PBH, foi usada força desproporcional contra mulheres, idosas, gestantes, pessoas com deficiência visual e crianças recém nascidas que foram atacadas por policiais do sexo masculino. Não bastasse a covardia desencadeada sob o comando do Major PM Natan, comandante da 12ª CIA da PMMG localizado no Vale do Jatobá, região oeste da Capital, uma criança de 14 anos foi conduzida no xadrez da viatura junto com adultos e permaneceu presa no quartel do bairro Vale do Jatobá até as 09 (nove) horas da noite e após conduzida pela viatura da PM até a delegacia de menores do Bairro  Barro Preto,  permanecendo presa até tarde da noite. Essas verdadeiras barbaridades cometidas contra o povo pobre, acontecem pela segunda vez na região do Barreiro. Em maio de 2012, policiais comandados pelo Major Natan, ainda quando este era capitão, também cometeram diversas agressões contra os moradores do assentamento ELIANA SILVA na mesma região, o qual foi denunciado na Comissão de Direitos Humanos da ALMG e ao Ministério Público da área de Direitos Humanos pela conduta violenta e abuso de autoridade, ações essas que ainda continuam impunes e abrem caminho para mais agressões. Ato contínuo, o advogado Elcio Pacheco, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG, foi acionado pelos moradores para que intervisse na prisão das pessoas dentro de um quartel, o qual foi agredido verbal e fisicamente pelo SGT ZILVANE e CABO WIMERSON, subordinados do MAJOR NATAN, os quais o empurraram para fora da sala onde eram confeccionados os Boletins de Ocorrência, no momento em que o advogado havia indagado sobre as ilegalidades de se prender pessoas dentro de um quartel e da permanência de uma criança, também presa junto com adultos e da proibição pelos PMs ao advogado consultar com os presos. Mas qual foi o motivo que justificasse as prisões? Nenhum. Somente para tentar intimidar o povo que se dispersou sob a ação militar que semeou o terror na região.
Em entrevista a frei Gilvander Luís Moreira, uma mãe, dona Maria Neuza Barbosa, disse: “Meu filho é cego. Entramos na ocupação porque não suportamos mais sobreviver em um único cômodo, cedido, por favor, pela dona Neuza. A gente estava almoçando na barraca e, de repente, bombas começaram a explodir ao lado da nossa barraca, que era já nossa casa, esperança de uma vida nova. Foi um sufoco enorme ter que fugir correndo com meu filho cego sob tiros e gritaria. Meu filho e eu temos direito de viver em paz. Como pode fazer isso também com uma criança cega?” A criança cega é José Reinaldo, aluno de uma Escola Municipal de Belo Horizonte. A mãe acrescentou: “Eu vesti a camisa da Escola no meu filho para verem que ele estudante e está lutando para melhorar a vida.”
Outra mãe, dona Maria de Lourdes, disse: “Sou mãe de 11 filhos. Tivemos que ocupar, porque não temos para onde ir, porque estão exigindo o barraco onde a gente vive. Não temos condições mais de pagar aluguel. Onde vou viver com meus 11 filhos?”
Um jovem, com um olho avermelhado, disse: “Um policial gritou comigo “Suma daqui. Não encoste em mim.” Eu disse ao policial que eu tenho que respeitá-lo, mas ele tem que me  respeitar também. “Do mesmo jeito que não posso encostar em você, você policial, também não pode encostar em mim.” Nessa hora, jogaram uma bomba ao meu lado. Por isso meu olho está vermelho e ardendo. A bomba caiu próxima de uma criança de 15 dias. Deve ter arrebentado os ouvidos dela. Isso é um absurdo. A polícia não respeita mais nem criança.”
Por isso, uma criança de 15 dias de vida foi ferida e teve que ser levada para o hospital. Uma bomba, lançada pela PM, explodiu ao lado da barraca onde estava a criança. Imagine o sistema auditivo dessa criança sendo danificado por essa bomba! Representantes da PBH tentaram cooptar uma pessoa que se apresentou como liderança, oferecendo indenização para ela com a condição de que ela não mais liderasse o povo para reocupar a área.
Fiscais da PBH agrediram inclusive mulheres grávidas de 8 meses. Um rapaz trabalhador que chegava do serviço apanhou da polícia sem motivo algum. Bombas explodiram ao lado de criança, de idosas que, ao correr, caíram. Um rapaz que tem platina no tornozelo, ao correr das bombas, caiu em um buraco e, provavelmente, terá que operar novamente o tornozelo.
A prefeitura de Belo Horizonte, que se diz proprietária da área tenta justificar o despejo dizendo que se trata de área ambiental. Primeiro, a maior parte do terreno não é área ambiental. Segundo, os terrenos que “são da prefeitura de BH” na região do Vale do Jatobá até início da década de 90 do século XX eram terras públicas, do Governo Estadual. Foram repassados para empresas por preço irrisório, sem licitação e com cláusula contratual que exigia a construção de empreendimento industrial que gerasse emprego na região no prazo de 12 ou 24 meses. Diziam que seria criado o Distrito Industrial do Vale do Jatobá, mas mais de 20 anos se passaram e muitas empresas não cumpriram a cláusula contratual, ficaram especulando com os terrenos. Por isso há várias Ações Civis Públicas, da Defensoria Pública e do Ministério Público, arguindo a anulação dos contratos e o retorno dos terrenos ao Governo de MG. Basta o Governador de MG, Sr. Antônio Anastasia, reconhecer a nulidade dos contratos e destinar os terrenos para um grande programa habitacional popular. Na época, como compensação ambiental, vários terrenos foram doados para a Prefeitura de BH. Por isso é que a PBH diz ter terrenos lá na região. Enfim, se os contratos forem anulados, a PBH poderá também perder a titularidade desses terrenos. Logo, a propriedade dos terrenos por parte da PBH é questionável. Mais grave ainda: A PBH é responsável, ao lado dos Governos estadual e federal, pelo cumprimento da Constituição que prescreve moradia para todos como um direito constitucional. Se os poderes públicos não viabilizam moradia popular para o povo, é óbvio que o povo tem o direito e o dever de ocupar os terrenos abandonados, que não cumprem sua função social.
Um comandante da PM, olhando na direção de uma liderança que chegou após o despejo, gritou e repetiu: “Se alguém estimular a violência aqui, será preso.” A esse comandante e a todos os policiais de MG (50 mil soldados da PM e 10 mil da polícia civil) sugerimos a leitura do livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, de 1967, mas atualíssimo. Lá vemos, por exemplo, que quem inicia a violência não são os oprimidos, mas os opressores. Logo, comandante, quem está, mais do que estimulando a violência, está sendo violento é a classe dominante, e com ela o Estado, que não respeita a Constituição, que protege de forma absoluta a propriedade que não cumpre sua função social e reprime os pobres quando esses se unem e, de forma coletiva e organizada, lutam por seus direitos. Por isso, comandante, prenda quem realmente “estimula” a violência: os empresários especuladores e gestores públicos que usam e abusos dos poderes públicos para beneficiarem particulares e submeterem milhões de famílias à cruz do aluguel ou à humilhação que é sobreviver de favor. Comandante, mais do que enxugar gelo, saiba que a polícia ao reprimir lutas coletivas por direitos humanos jamais fará justiça. Sempre agravará o problema social, pois a repressão aumenta a indignação. O Povo dá um passo atrás, mas retorna com mais força para a luta. Policiais, recordem que vocês são da classe trabalhadora. É asqueroso pessoas cumprirem ordens injustas que violentam quem vem sendo violentado a conta-gota. A lei maior do Deus da vida diz: Não matarás! E se mata de muitas formas. Viver crucificado pelo aluguel ou por sobreviver de favor também mata. Rebelião contra esta engrenagem que violenta a dignidade humana é algo ético, justo e necessário.
Como documentos, apresentamos, abaixo, os links de três vídeos que atestam a veracidade dos fatos apresentados e denunciados aqui nessa nota.

1)   PM de MG e Guarda Municipal de Belo Horizonte, sem mandato judicial, com truculência, despejam 150 famílias:

2)   150 famílias são despejadas, sem mandato judicial, ao lado da Vila Corumbiara, em Belo Horizonte:

3)   PM de MG prende avó, um soldado do exército, um adolescente e um trabalhador, ilegalmente e de forma truculenta.

Pelo exposto, acima, exigimos:

1)   Que o Ministério Público de MG apure as arbitrariedades e tome as medidas judiciais necessárias para punir comandantes e policiais que agiram fora da lei;
2)   Do Prefeito Márcio Lacerda, do Governador de MG, Sr. Antonio Anastasia, e da Presidenta Dilma exigimos moradia digna para todas as famílias que estão crucificadas pelo aluguel ou pela humilhação que é sobreviver de favor.
3)   Que todas essas famílias que foram despejadas sejam reassentadas em casas ou apartamentos do Programa federal Minha Casa, Minha Vida;

Belo Horizonte, MG, Brasil, 28 de outubro de 2013

Contatos para maiores informações:
Com Leo, cel.: 31 9133 0983 ou Poliana, cel.: 31 9283 9027

Assinam essa Nota,
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB

Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP.

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